"É para que você, não negro, reflita
sobre seus privilégios. Para nós, negros, compartilharmos nossa história."
Por
CARLOS LACERDA, PRESIDENTE DA UESVG.
Hoje, 20 de novembro, não é o
dia de abordar a escravidão com eufemismo, muito menos de postar texto
bonitinho com “somos todos iguais”. Não é um daqueles dias para continuar sendo
hipócrita, fingir que racismo não existe e falar de “consciência humana”. E,
por favor, não é nosso aniversário para nos darem os parabéns. A data da morte
de Zumbi não foi escolhida como Dia da Consciência Negra para nos parabenizar,
mas sim para lembrar da luta negra, que ainda é diária.
Ser uma jovem negra na nossa
sociedade é já nascer em um ambiente hostil, desde o espaço escolar, que
promove nossa invisibilização e ignora o ensino da história e cultura da
África, hoje previsto por lei. A escola permite que brancos contem a trajetória
e sabedoria de seus ancestrais, enquanto a nós fica reservado um capítulo sobre
a escravidão. Nem ao menos este período é contado pelo nosso ponto de
vista ou de forma que demostre nossa resistência.
Além disso, desde cedo lidamos
o tempo inteiro com uma visão racista-social que menospreza nossas
características e nos relaciona apenas a espaços marginalizados. O que faz nós,
negros, nos sentirmos inferiores. O que faz nós, meninas negras, nos sentirmos
feias e rejeitarmos nossa aparência.
Junto a essas questões
cotidianas que afetam nossa saúde mental, temos a luta por conquista de espaços
que historicamente nos foram negados. Somos maioria nos presídios e nas
periferias, mas minorias nas universidades. Ganhamos 36% menos que brancos e
vemos nossos irmãos, país e filhos serem exterminados diariamente.
Diante de tudo isso, mesmo
assim conseguimos nos olhar para além da lente do racismo, nos enxergar e
entender que nossa sociedade foi construída sobre pilares de opressão,
estrutura que ainda que se demonstra por meio do racismo institucional. E que é
preciso, sim, entender e compartilhar toda a historia negra para
nosempoderarmos a partir dela.
O dia 20 de novembro não é para
comemorar. É para que você, não negro, reflita sobre seus privilégios. Para
nós, negros, compartilharmos nossa história e nos erguermos contra essa
estrutura social racista. Vivemos 338 anos de escravidão e depois 129 anos de
opressão e isso precisa acabar.
“Povo preto unido, povo preto forte.
Que não teme a luta, que não teme a morte.
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